Lei de Murphy X Destino - CONTINUAÇÃO

Você acorda. Olha pro lado e a cama está vazia. Ah, claro, só podia ser sonho, mesmo. Deve ter sido o combo Al Pacino ou a overdose de pipoca que confundiu o seu cérebro. É ÓBVIO que um cara maravilhoso, cheiroso, romântico, com uma camisa branca não podia ter entrado no seu apartamento e nem conversado com você até altas horas da matina... Porque você estava de pijama de coração, descabelada e era uma dona fracassada, sentimentalmente. E também era óbvio que ele não podia ter trazido aquele globo de neve super fofo que estava em cima da sua... NÃO! Mentiiiiiira!! O Globo de neve estava em cima da sua cômoda... você pega o relógio de pulso de dentro da gaveta e confere as horas: 12h30.

"Ok, eu dormi demais. Ou seria... DormiMOS demais?"

Olha pro outro lado, em cima da poltrona.

"Tem uma camisa branca lá. É de homem, não é do porteiro e nem do meu pai..."

Batem na porta. Você se recompõe, afinal você estava parecendo um animal selvagem, com o pijama - de corações - amassado e o cabelo mais bagunçado que ninho de passarinho. Desamassa, de leve, o pijama, ajeita a blusa, penteia os cabelos com os dedos e pronuncia um "Pode entrar", tentando disfarçar AO MÁXIMO a voz de sono que insistia em sair com força da sua garganta.

A sua expressão muda - completamente.

"Será que foi visível", você pensa.

"Bom dia! Ou seria... boa tarde?"

Era ele. Ele e uma liiiinda bandeja de café da manhã - ou seria almoço? - composta de queijo, pãozinho, geléia, peito de peru, suco de laranja, leite quentiiiinho, biscoitinhos doces e salgados eeeeeeee... a rosa. AQUELA que ele te trouxe. Claro que a sua face não manifestou nada além de uma cara de surpresa, que você não sabia se era parecida com a de "Um parente morreu" ou de "Ganhei na loteria".

"Papai do Céu, eu amo o Senhor com todas as minhas forças!!". Você deixou escapar isso em voz alta.

"Oi, desculpa, não te ouvi"

"Pronto, ganhei na loteria e joguei a mala de dinheiro no rio Tietê."

"Ah, nada não! Que linda surpresa, o 'café da tarde'! Não precisava, você sabe..."

A sua sorte é que, enquanto você deixava o dinheiro se esvair esgoto abaixo, ele falava de como conseguiu todos aqueles frios e guloseimas, já que a sua geladeira só tinha pizza de quinta-feira - e vocês estavam no sábado -, tomates, cenouras, uma Coca pela metade - sem gás -, UM litro de leite, meio pote de Requeijão e duas fatias de queijo...

"Acho que preciso fazer supermercado..."

"Ah, achei que você gostaria! Precisava agradecer a companhia e a cama, não é? Aliás, as duas estavam ótimas!"

Oh, céus, ele disse que as duas estavam ótimas... Será que ele se referiu à sua companhia também?Ele se senta ao seu lado e começa a "almoçar" com você. Oooh, é, só agora você notou que tinha um par de cada coisa na bandeja. Porque antes você estava preocupada com o tórax super definido, levemente hipnotizante e no qual você lia - em pensamento- uma palavra monossílaba MUITO convidativa : "VEM".

Quando você percebe que estava quase derrubando o leite - QUENTE - no pijaminha de coração, se recupera e continua a mastigar o pãozinho - DIVINO - com geléia de framboesa.

"Hm, então, onde vamos hoje?"

Merda. Você tinha esquecido COMPLETAMENTE do fato de que serviria de Guia Turístico pra o amigo colorido que passara a noite com você.

"Ah, podemos ir até o Parque do Ibirapuera"...

Ver camisinhas, pedaços de vidro e GERAL fazendo "FARO-FA-FA"

"Depois passamos no MASP"

E rezamos pra não ter nenhum maloqueiro pedindo dinheiro no meio da Avenida, ou nenhum turista desesperado por uma foto ao lado de uma barraquinha de quinquilharias do tempo da sua tataravó

"Podemos passar de carro pela Avenida Paulista, que já está enfeitada pro Natal e é bem bonita, à noite"

E rezar NOVAMENTE pra não aparecer ninguém pra pedir o carro, seqüestrar vocês, pedir o cartão de crédito, constatar que o IPVA do carro NÃO está pago, que você NÃO tem dinheiro no banco e que nenhum parente seu tem mais de 4 mil reais pra pagar a fiança... Ah, além do fato de que o dinheiro do seu amigo pseudo-gringo estava trancado num banco do outro lado da Cidade e que a chave se encontrava "no domínio" do Gerente do Hotel.

"E terminamos a noite tomando um sorvete na 'Brunella' , o que acha?"

Ele sorri... Você se sente novamente hipnotizada, mas desta vez por um conjunto de dentes brancos, através dos quais você se via como num espelho. E não, não tinha nenhuma migalha de pão ou semente de framboesa entre eles. ¬¬

Aliás, você aproveita enquanto ele passa geléia na torrada pra olhar rapidinho, no reflexo da sua faca, levemente suja de manteiga, se nos SEUS dentes não havia nada relacionado a pedaços de framboesa ou queijo... Ufa, tudo OK.

"Então?"

"Perfeito!"

"Ótimo! Se você quiser a gente passa no Hotel e pega uma roupa mais confortável, o dia está bonito, não tá sol, mas também não tá chovendo e..."

Uma bermuda...PRA VOCÊ seria perfeito, porque você teria acesso à mais bela visão de um par de pernas masculinas, que, vamos combinar, você não via algo parecido há um booooom tempo.

"Ih, nem se preocupe. To confortável assim... antes de vir aqui eu troquei de roupa, ontem, então não está tão mal. E vai ser engraçado o pessoal me olhar como se eu fosse um turista, mesmo!"

Droga. Você aceitaria um shortinho. Mas nada te impede de fazer um charme...

"Ah, se você não se incomodar, eu vou mais à vontade, tá?"

"Sem problemas!"

"Bem, vou lavar essa louça, enquanto isso você fique à vontade, tá? Depois eu tomo um banho rapidinho e a gente sai."

"De jeito nenhum, eu lavo! Eu organizei e eu arrumo!"

Vocês ficam naquela discussão básica de quem vai lavar a louça, até que ele te convence a tomar banho primeiro, enquanto ele arruma as coisas.

Bem, você toma banho, ele toma banho - e usa uma das SUAS toalhas - e vocês saem de carro.Param numa rua próxima ao "Ibira", passeiam no parque, tomam sorvete, brincam com um labrador simpático que arrastou um galho - veja bem, não é um graveto, é um GALHO - pela frente de vocês ao ponto de levantar folhinhas de grama, que, CLARO, caíram em cima de você.

Depois, lá pelas 16h, já passado o dia no parque, vocês vão até o MASP. A feirinha ainda estava lá, então, vocês passeiam um pouco antes de subir.

"Quanto é?"

Como você é uma paulistana completamente desatualizada, você não sabe o preço do MASP e nem se deu ao trabalho de entrar no site pra procurar.

"Quinze reais" , disse o moço do caixa.

"Eu pago"

O seu amigo tinha se oferecido pra pagar a sua entrada.

"De jeito nenhum! Já não basta o que você fez pra mim... EU pago."

Vocês entram e percorrem a galeria tooooooda... E enquanto você pasma, olhando algumas figuras abstratas, ele comenta das galerias enormes do Louvre.Passadas umas duas horas, vocês saem do museu. Ambos ainda meio tontos, por causa da luz, e de tanto rodar, lá dentro.Ele ainda comentando de como tinha passado tanto tempo sem ver "um Portinari" e como chegava a cansar toda aquela perfeição do Renascimento.

"Pra onde a gente vai, agora?", ele perguntou, enquanto vocês colocavam o cinto, no carro.

"Ah, são 18h30. Dá pra gente tomar o sorvete antes e fazer uma horinha, até escurecer, aí a gente passa pela Paulista e eu te levo pro Hotel."

"Pra mim, ok! Mas não vou deixar você me levar pro outro lado da cidade. O caminho é loooongo e eu não consegui achar um hotel mais pra cá. O que eu achei é perto do aeroporto... de Guarulhos."

É, realmente você acharia UM PORRE despencar do Morumbi até Guarulhos... Se bem que o esforço valeria a pena.

"Mas você tem certeza? Tem dinheiro pra voltar de Táxi?"

"Ah, o hotel colocou à disposição um dos Táxis deles. É só eu ligar que ele me pega. E também combinei com um pessoal que conheci por lá que jantaríamos juntos, hoje! Tem até um alemão, lá. To louco pra conversar com ele!"

"Ahhh, sim..."

Alemão F#$%& DA P*¨%$! Tinha que levar o seu amigo pra conversar?! Agora que você estava com esperanças de esticar a noite...

...Chegaram na sorveteria, tomaram maaais sorvete, enrolaram, conversaram e saíram de lá já perto de 20h. Passaram pela Paulista. Estava linda! Prédios iluminados, "Papais Noéis" pra todos os lados, estrelinhas piscando no alto dos edifícios e árvores lotadas de luzinhas!É. Foi um programa bom!Chegando em casa, ele sobe com você.

"Obrigada pelo dia!"

Você fica vermelha. Saco! Por que raios você tinha que ficar vermelha cada vez que alguém - HOMEM - falava com você?!

"Imagine! Obrigada você, pela companhia!... E por ter me ligado às 2h da manhã. Se não fosse isso, não teríamos passado um dia tão bom!"

"Sempre que eu puder, então, te ligo às duas da manhã!"

Os dois dão risada e você pergunta se ele tem mesmo que ir jantar com o Alemão ¬¬

"Infelizmente já marquei. Mas a gente se fala durante a semana, tá? Agora que já sei que você continua no mesmo apartamento, vou procurar um hotel aqui perto".

Vocês trocam telefones. Sorriso. Parecia que a Bateria da Vai-Vai estava tocando dentro de você.

"Bom, então... tchau!"

Abraço demorado, último cheiro de perfume - você inspirou profundamente - antes de ele ir, e um beijinho na bochecha.

"A gente se vê"

"A gente se vê"

O elevador chega, ele dá o último tchau, pela janelinha do elevador, e some, 12 andares abaixo.Antes de voltar pro quarto, você lembra de um trecho de uma música de RENT, um musical sobre Boêmios, pára na frente do espelho, dá uma reboladinha e canta:"They say that I have the best ass Below 14th street... Is it True?", dá uma risada e começa a se despir pra ir dormir.Qual não é a sua surpresa ao encontrar um casaco preto - que não era o seu que estava lavando - em cima da poltrona, perto da janela.

"Oh, ele esqueceu o casaco!... YES!"

Óbvio que você tinha achado o máximo o fato de ele ter esquecido o casaco na SUA poltrona.

"Tenho que ligar pra ele!!...Que pena, ele vai ter que voltar... hahaha!"

Corre até o telefone, disca o número.Primeiro toque... Segundo toque...Terceiro toque...

"Alô?"

"Alô, Marcos?"

"Oi! O que aconteceu?"

"Você esqueceu o seu casaco aqui!"

"Puxa, é verdade. Ainda bem que não liguei pro Táxi, ainda! To subindo, espera aí!"

"Ah, tá... tchau!"

Ai, meu Deus, ai, meu Deus, ai, meu Deeeeeeeeeeeeeeus!!! O pseudo-gringo estava subindo o elevador de novo!!! Você faz as contas... tem exatamente UM minuto até ele entrar no saguão do prédio, chamar o elevador e subir até o 12º andar - onde você se encontrava semi-nua (de camisola) e tocar a campainha.

O Casaco. Você pega o casaco, se recompõe e veste um roupãozinho que veio junto com a camisola que você comprou na promoção do Rei do Armarinho da esquina de casa, e espera, ansiosíssima, a campainha tocar.

A campainha toca e você tem certeza que não é o JASON com uma serra elétrica.

"Marcos?"

"Oi, to esperando..."

Você abre a porta com aquele "olhar 43", que, claaro, desmonta, ao ver a cara de "cão-sem-dono que-esqueceu-o-ossinho-do-outro-lado-da-rua-e-não-quer-atravessar". Coloca o casaco pra fora e segura firme. Ele tenta puxar e não consegue. Tenta de novo e não consegue.

Vendo que ele não poderia ser vencido pela SUA cara de "Fica?!", ele entra, fecha a porta e te deixa encurralada: presa, com as mãos nas mangas do casado -dele-, vestido - em você - ao contrário. Já com os rostos - lábios - quase se encostando, ele pára, tira o celular do bolso e aperta um botãozinho que faz um barulho estranho, estilo "Walk-Talk"...

"Steven?"

Silêncio. Vocês se encaram um tempinho e, de repente, sai uma voz meio metálica do aparelhinho que deveria ter zilhões de funções e que você só conhecia a de TELEFONE.

"Yepp, what's up?"

"Tell everybody that I'll stay out tonight, ok?"

"Ok, but..."

"Thanks"

Detalhe que tudo isso foi falado sem ele desgrudar o par de olhos negros - e profundos, e lindos, e misteriosos e... - de você. E depois do "Thanks", ele desligou o aparelhinho, jogou-o em cima do sofá e te arrancou um beijo - um SENHOR beijo.

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O resto?

Bem, o resto vocês podem imaginar...

Ou não! ;) Aguardem!!!

(Desculpa T.T Me empolguei de novo!)