Sopa de Letrinhas

quarta-feira, dezembro 06, 2006

O Homem e o Tempo

[Antes de mais nada, um texto para refletir. Não venho com uma resposta, quem chega a ela é você]



Um dia, Homem e Tempo se encontraram num dos cruzamentos da estrada da vida. Se olharam, se cumprimentaram e não continuaram o caminho. Havia alguma coisa que incomodava o humano e ele hesitava em falar o que era. Depois de muito se encararem, o Tempo instigou o Homem a dizer o que tanto o incomodava. Pois bem, ele disse. Perguntou ao Tempo quem ou o que ele realmente era.

O Homem ficava impaciente. Perdera anos de sua vida com o estranho pensamento lhe ocorrendo e sempre tivera vontade de perguntar isso, mas nunca havia tido uma oportunidade.

Quando criança, se preocupara demais em brincar, ficar com a mãe e aprender coisas novas. Desde bebê, ocupava todo o espaço do tempo pensando, criando, descobrindo, explorando.
O tempo passou e eles não se encontraram

O Homem foi crescendo. Aprendeu a controlar o fogo. Descobriu que desobedecer os mais velhos tinham sérias - e dolorosas - conseqüências. Aprendeu a andar, a correr, a chutar, beliscar, morder e tudo mais. Descobriu que o controle da TV do quarto que ficava na cama da mamãe não tinha um gosto muito agradável, que "aquela coisa estranha no lustre" era um móbile - horrível, segundo ele, uns anos depois -, e que o cheiro de colônia vinha da vovó. Aprendeu a amar. Chegou à conclusão de que quanto mais se tenta conquistar um ser, menos se consegue. Tem que deixar o Tempo agir por ele mesmo, apesar de que eles, os humanos, teimam em não deixar isso acontecer.

O Homem cresceu novamente e, mais uma vez, ele e o Tempo se desencontraram.

Quando jovem, o Homem aprendeu que deixar-se levar pelos outros não é uma coisa muito legal. Aprendeu a escolher as amizades, a ter responsabilidade e a controlar suas decisões e as suas palavras. Mas entre uma balada e outra, uma reunião de negócios e outra, um passeio ao parque ou uma corrida no metrô, novamente ele e o Tempo se desencontraram.

O Homem continuou a crescer, e, junto com ele, cresceram as responsabilidades, os compromissos, as decepções e as broncas. Mas também cresceram - e muito - as realizações, as alegrias, as comemorações, as paixões... E os filhos! Sim, o Homem teve filhos e gastou parte das suas horas de vida - e do seu dinheiro, sua força, sua paciência,suas lágrimas, suas energias, sua gasolina, seu cérebro - com eles. O Tempo quase não o encontrava, durante esta fase, e resolveu nem atormentar. Deixou o Homem livre para passar mais uma etapa da sua vida.

O Homem começou a envelhecer... seus cabelos ficaram brancos. As perdas se tornaram mais constantes, principalmente em se tratando de coisas materiais; os filhos cresceram e tiveram seus filhos, entes queridos se foram, o corpo começou a apresentar sinais de cansaço e a pedir um descanso.
Sem hesitar,o Homem aceitou. Se aposentou e começou a aproveitar os últimos anos do seu ciclo.Ia ao médico periodicamente, fazer a manutenção da "máquina corpo", caminhava de manhã todos os dias, se alimentava corretamente, lia bons livros, assistia à televisão, ia ao cinema...

E foi numa dessas caminhadas matinais, num cruzamento perdido por aí, que eles, o Tempo e o Homem, se encontraram, e o último, vendo que lhe restavam apenas poucos anos de vida, fez a pergunta.


...


"O que sou eu?, perguntou o Tempo, Achei que depois de passar por tudo o que você passou, Homem, você descobriria."

2 Comments:

Blogger Sabrina Inserra said...

Uou...
Amei Domi!!!!

12:29 PM  
Blogger Pioux's said...

parece meio terrível....
o.O
eu gosto do tempo..

11:44 PM  

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